sábado, maio 14, 2011

Longe da vista, perto do coração.

I've been feeling different somedays.
Sempre que estou com os meus, sou diferente, sou eu, o brincalhão, o party animal, sempre de sorriso de orelha a orelha, sempre disposto a abraçar o mundo, a abraçar o desconhecido, e as desconhecidas, estou sempre disposto a mais uma volta voltando sempre ao mesmo. Sou o Pedro, que não escolhe amigos pela aparência, nem pela beleza, nem sequer pela sua inteligência, procura apenas ser fiel a mim mesmo, sou às vezes humilde, sou convencido naquela de tentar dar uma de brincalhão, mas sou de confiança, sou da terra, lá de cima do Norte, onde as pessoas são mais genuínas, e onde as verdades são ditas com um quilómetro de coração. Sou afável, tenho conversas, ajudo os meus amigos, ajudo-me a mim mesmo ajudando-os a eles. Mas entro em conflito.
Quando estou sozinho sou diferente, sou um pedaço negro de estrada, de rosto fechado, ao estilo polícia pré-Abril de 74, sou um ser que não tem confiança, sou um pobre plástico moribundo num rio à deriva, sou encontrado facilmente deprimido, e a pensar no que me faz mal, e no que me faz bem, e onde é que errei.
Ultimamente penso também em ti, quando estou sozinho. Tu que abandonaste o meu caminho, para seguir um caminho melhor para ti. Vi-te há pouquíssimo tempo, a primeira vez desde aquele sábado de despedida, em que me encontrei pela última vez no que eras para mim, ainda na altura em que o sol era dourado de areia. Nesse momento o tempo congelou, senti-me um robot a fazer um reset, a começar a voltar ao passado, o sangue gelou e não correu mais, o coração bombeava menos sangue, e senti literalmente o tempo a parar, o coração a subir através do peito, cada veio dele sentia-se a subir pela garganta até à boca de onde saiu de mim e caiu inanimado no chão, como pedaço de tecido velho a entrar na trituradora.
Pensei que era amor, que era paixão, que era ódio, ou ressentimento.
Não era nada disso, era medo, misturado com nódoas ardentes de passado, embebidas em líquido ardente que me destruía a memória. Ao longo dessas horas em que a música me destruiu a memória senti que o passado não era melhor que o presente, era apenas diferente. Porque consegues viver ao lado de alguém que não é melhor que eu, e eu consigo viver sozinho, rodeado dos meus e à espera de alguém que me faça viver uma vida nova. Sei que estás muito diferente do que eras comigo, mas receio que tenhas perdido o encanto que eu encontrei em ti, que tenhas descoberto outra pessoa no que és, mais madura, talvez menos sonhadora, mais terra a terra, menos apelativa para mim. Uma pessoa que se tornou igual a muitas outras, e que não vês hoje em ti o que eu vi em ti há muito tempo, e que te tenhas essencialmente tornado humana, não vulgar, mas normal.
No fim da história desceste dos céus e segues uma vida terrena. Longe de mim, mas suficientemente perto para eu saber que existes.

Sem comentários: