domingo, maio 29, 2011

Grey.

Não sei de que cor acordei hoje, mas sinto-me cinzento da cor do tempo, negro como o alcatrão da estrada e sombrio da tez do quarto em que escrevo.
Enganei-me quando disse que a tua vida deixou de me afectar, é impossível isso acontecer, agora percebo, gostarei sempre de ti,, mesmo tendo alguém. Foste alguém que passou por mim, não digo a toda a velocidade, mas apenas à velocidade suficiente para ficar amarrado a ti, ao passado que nos envolvia aos dois, e a tudo o que és. incondicionalmente Podia dizer que tenho uma ligação muito forte a ti, mas estaria a mentir, uma ligação consiste em haver dois lados que se correspondem entre si, e sei que isso não acontece. Mas sinto um chamamento por ti, no sentido em que sei a diferença que fizeste na minha vida, o que me ensinaste a ser, o que me tentaste dar, o que quiseste que eu fosse, o que lutaste para eu mudar, o que sofreste enquanto eu tentava mudar, e quão partida ficaste após o acumular de situações de dor que te infligi.
Hoje a relação que temos não tem nada: não tem alegria, não tem tristeza; não tem dor, não tem prazer; não é amor, não é ódio; não é paixão, nem total desinteresse; não é calor, não é frio; não é sol, nem é neve; sei que definitivamente não sou tudo, mas efectivamente sou nada.
Sou um nada que partiu para um estação espacial no centro de nenhures, para um país no meio de algum lugar, que desapareceu com a força de algo, que sumiu como se fosse consumido pelo presente e pelo futuro. Sou um nada feito de tudo, mas que desaparece no horizonte, não faço linhas imaginárias no teu coração, ao invés soltaste-me da corda que me segurava e largaste-me nos confins daquilo que és. Sou um nada que acabou consumido pelo tempo, e pelo espaço, sendo que agora em ti me encontro a meio caminho entre o não existir e o não estar em lado algum coberto de sol. Sou um nada, e represento exactamente aquilo que o nada é, sou nada, não sou matéria, sou ar que voa em direcção à escuridão.
Hoje em ti sou aquilo que mereço ser, uma mancha.


sábado, maio 14, 2011

Longe da vista, perto do coração.

I've been feeling different somedays.
Sempre que estou com os meus, sou diferente, sou eu, o brincalhão, o party animal, sempre de sorriso de orelha a orelha, sempre disposto a abraçar o mundo, a abraçar o desconhecido, e as desconhecidas, estou sempre disposto a mais uma volta voltando sempre ao mesmo. Sou o Pedro, que não escolhe amigos pela aparência, nem pela beleza, nem sequer pela sua inteligência, procura apenas ser fiel a mim mesmo, sou às vezes humilde, sou convencido naquela de tentar dar uma de brincalhão, mas sou de confiança, sou da terra, lá de cima do Norte, onde as pessoas são mais genuínas, e onde as verdades são ditas com um quilómetro de coração. Sou afável, tenho conversas, ajudo os meus amigos, ajudo-me a mim mesmo ajudando-os a eles. Mas entro em conflito.
Quando estou sozinho sou diferente, sou um pedaço negro de estrada, de rosto fechado, ao estilo polícia pré-Abril de 74, sou um ser que não tem confiança, sou um pobre plástico moribundo num rio à deriva, sou encontrado facilmente deprimido, e a pensar no que me faz mal, e no que me faz bem, e onde é que errei.
Ultimamente penso também em ti, quando estou sozinho. Tu que abandonaste o meu caminho, para seguir um caminho melhor para ti. Vi-te há pouquíssimo tempo, a primeira vez desde aquele sábado de despedida, em que me encontrei pela última vez no que eras para mim, ainda na altura em que o sol era dourado de areia. Nesse momento o tempo congelou, senti-me um robot a fazer um reset, a começar a voltar ao passado, o sangue gelou e não correu mais, o coração bombeava menos sangue, e senti literalmente o tempo a parar, o coração a subir através do peito, cada veio dele sentia-se a subir pela garganta até à boca de onde saiu de mim e caiu inanimado no chão, como pedaço de tecido velho a entrar na trituradora.
Pensei que era amor, que era paixão, que era ódio, ou ressentimento.
Não era nada disso, era medo, misturado com nódoas ardentes de passado, embebidas em líquido ardente que me destruía a memória. Ao longo dessas horas em que a música me destruiu a memória senti que o passado não era melhor que o presente, era apenas diferente. Porque consegues viver ao lado de alguém que não é melhor que eu, e eu consigo viver sozinho, rodeado dos meus e à espera de alguém que me faça viver uma vida nova. Sei que estás muito diferente do que eras comigo, mas receio que tenhas perdido o encanto que eu encontrei em ti, que tenhas descoberto outra pessoa no que és, mais madura, talvez menos sonhadora, mais terra a terra, menos apelativa para mim. Uma pessoa que se tornou igual a muitas outras, e que não vês hoje em ti o que eu vi em ti há muito tempo, e que te tenhas essencialmente tornado humana, não vulgar, mas normal.
No fim da história desceste dos céus e segues uma vida terrena. Longe de mim, mas suficientemente perto para eu saber que existes.

terça-feira, maio 10, 2011

Tempo #3

Talvez o tempo tenha sido o conselheiro que me faltava, porque hoje vejo claramente todos os erros que cometi, e todos os problemas que criei. Consigo ver nos meus iguais aquilo que fui, o que fingi, as vezes em que pensei que estava tudo bem, as vezes que apaguei os erros com um sorriso com um sombreado negro, as vezes em que me senti um pedaço de terra que merecia ser empurrado para baixo, sei os erros que cometi, e hoje isso faz de mim um observador atento.
Não sei o que quero neste momento, não me sinto pronto para amar alguém, para me entregar o livro que sou completamente. Sinto que neste momento sou o homem só, que não tem recordações negras do passado, que usa o que fez de errado no passado para gravar na sua mente e aplicar na sua vida do presente, para o saber usar no futuro, e que quando chegue a hora de voltar a dizer a palavra sagrada, tem a certeza que o diz com todo o coração.
Quero um dia poder esquecer todos os meus medos, de me assumir alguém com outra pessoa, quero dizer abertamente o que sou, quero poder dizer que fui meloso, quero poder dizer que sou romântico, quero poder dizer que sou apaixonado. Quero enterrar os meus medos e poder explodir de alegria quando souber que o sinto é correspondido do outro lado. Quero poder apaixonar-me duma maneira estranha, mas ainda assim totalmente arrasadora. Quero acordar de noite a desejar uma mensagem da pessoa que gosto. Quero poder virar-me para o lado e poder agarrar alguém com a força de mil homens. Quero um amor que a distância não pode separar, que a vida não pode quebrar, suportável à distância apenas porque o segundo em que os nossos corpos se encontram ser o momento do extâse.
Quero perder-me em pensamentos.
Quero poder ser aquilo que nunca fui.
Quero ser o alguém de alguém.

segunda-feira, maio 09, 2011

Outras pessoas aparecem.

Sempre me disseram que estamos sempre a aprender com a vida, com o passar dos tempos e com a experiência tornamo-nos em seres humanos com capacidade de avaliação e que tendem a cometer cada vez menos erros a cada dia que passa.
Esta capacidade de evoluirmos após a compreensão dos erros leva-nos ao que me parece ao cinismo, e eu acredito sinceramente que o mundo chegou ao ponto a que chegou porque as pessoas que tomam as decisões são cínicas, não gostam de acreditar numa espécie de risco, na bondade natural das coisas e no acreditar.
Escrevo porque hoje senti-me defraudado, desiludido com alguém de quem gosto, de alguém que faz parte da minha vida há já bastantes anos. Nunca pensamos que uma pessoa que seja nossa amiga há muito tempo, seja capaz de nos defraudar, quando nós pensamos que já conhecemos tudo naquele pessoa, as coisas boas e as coisas más. Quando somos surpreendidos por tempestades sob a forma de pensamentos e acções que aos nossos olhos parecem irreais, e que não passam duma ilusão.
Já fui cínico, já fui mesmo muito cínico. Não gostava de coisas novas, o que era diferente repulsava-me, o preconceito abundava em mim, mas fui mudando. Gosto de pensar que hoje sou alguém que acredita nas pessoas, na fé delas e na coragem em nos respeitar duma forma elegante.
Mas hoje deixei de acreditar em ti, no que me dizias, percebi que afinal o que te digo não são mais do que palavras vãs que ecoam num desfiladeiro com mil metros de profundidade, em que a sua inteligibilidade e a sua percepção é zero! Hoje é o dia em que te afasto do núcleo das pessoas intimas da minha vida, em que contava muito da minha vida a ti, e muito do que és, pensava que era por minha causa, mas hoje percebi que afinal és de outro mundo. Hoje deixaste de ser digna da minha amizade. passaste a ser digna do que tens, do marasmo em que te meteste, e do qual um dia irás ter de sair sem o meu braço. Se saíres, sairás pelo teu próprio pé, esmurrada pelos socos que ninguém quis levar por ti.
Quando alguém sai do nosso coração, outras pessoas aparecem para preencher o vazio.

domingo, maio 08, 2011

Comboio do destino.

Faz hoje uma semana que te vi pela primeira, e talvez a única vez, para sempre.
Rapariga do comboio, naquele dia não sabia o que dizer, estava (estou) num período em que sou cobardolas, em que tenho falta de confiança e medo de arriscar em tudo, não só no amor, e naquele momento estava na fase em que se decidia se eu era um homem ou um rato. Passado uma semana cheguei à conclusão que sou um pouco dos dois, a minha parte de rato reflete-se na falta de coragem que tive em chegar à tua beira e dizer-te o porque de achar que eras diferente, e pedir-te para fazeres parte da minha para sempre. A minha parte de homem, enquanto ser que acredita e que tem alguma fé, espera que o destino me leve de encontro a ti, e me deixe ser feliz.
Sei o que ficou em mim de ti, o teu cabelo é especialmente bonito, reflecte-se no teu tom de pele maravilhoso, um moreno de alegria.
Fizeste-me feliz durante 3 horas e muito, sem sequer eu ter tido a necessidade de falar contigo sequer, porque pensei que estavas olhar mesmo para mim, duma forma fugidia, esperando que talvez eu saltasse do marasmo em que me encontro para tomar uma decisão que ia mudar as nossas vidas para sempre, ou talvez não.
Hoje é dia de viagem, e a única coisa que eu realmente desejo para esta viagem, é simplesmente ver-te. Que mudes o meu dia, que me faças feliz como uma criança, que me faças chorar pela beleza dos teus olhos, e que me deixes guardar o teu sorriso só para mim.
Não acredito em destino, acredito em mim, mas hoje o destino se existisse, dava uma mãozinha.

sexta-feira, maio 06, 2011

Saudade

Sabes,
Não há muito tempo disse-te o que sentia, ou pelo menos o que pensava que sentia, um conjunto de pensamentos, baseados em actos e emoções baseados naquilo que foi um passado que vou querer recordar. Por mais que queira, tu não paras de me assombrar, continuo a pensar em ti, não tanto nem com tanta intensidade como há uns meses, mas com um misto de carinho, mágoa e saudade. Apesar de nunca me teres feito sentir mal, e que regrasses grande parte da tua vida para me fazer feliz todos os dias, e em todos os segundos desse dia, nunca me senti o suficiente para ti sabendo que a culpa disso acontecer sempre será minha e nunca tua, por nunca te ter dado o devido valor.
Ao leres esta carta, se leres, sei que não vais gostar, mas vou recordar sempre do que deixaste em mim. Deixaste marcas indeléveis, não rasgadas, antes trabalhadas com o mais fino recorte no meu coração, e como todos os grandes artesãos, soubeste trabalhar o meu coração para que eu pudesse gostar ao máximo de ti. Lembro-me de ti e das tuas mãos frágeis, mas bonitas, que apertavam as minhas com a força dos mares, e que apesar da diferença corporal pareciam que encaixavam simetricamente nas minhas. Lembro-me do teu sorriso, que hoje vejo sendo um feixe de luz surreal, ligeiramente a inclinar-se para um dos cantos da tua boca, sabendo que em seguida viria um ponto de luz nos teus olhos em forma de floco de neve que brilhava sempre que te via comigo. Nunca lhes dei o devido valor, às mãos e aos olhos, mas hoje reconheço-os como sendo carimbo lacrado do amor que sentias por mim.
Hoje se calhar lês o texto, e dás-me exactamente o que é necessário para mim: uma dose enorme de realismo e pragmatismo, tu vai ignorar, se pudesses dirias para seguir em frente, que o tempo de gostar de ti já acabou. E que não é bonito eu sujeitar-me a isto, a esta saudade crua que encontro na escrita, para demonstrar os pedaços de ti que ainda ficaram em mim.
Não quero que voltes para mim, não era justo, como nem sequer era minimamente justo eu pedir-te para seres parte da minha vida, depois de nós termos tido um fim. Só quero que saibas que não te esqueci, que te sinto em mim, e que na cidade do Fado Saudade escreve-se com letra grande. *

quinta-feira, maio 05, 2011

New dawn, nem day.

Hoje foi diferente, não o sabia quando acordei, deviam ser umas onze (?). Não me sentia diferente, todos os meus membros e todas as articulações se sentiam iguais, o meu cérebro continuava lento como é seu costume de manhã, e só me apetecia dormir.
Mas hoje houve algo diferente, a tarde cheirou-me a mudança, senti que algo diferente começou a tomar conta de mim de uma forma não muito forte, mas lenta e suave como um bom pedaço de madeira ao lume. Dizes-me hoje que o teu futuro mudou, que já não me sentes, sentes outras coisas, por outras pessoas, e que eu já não o sou a pessoa que mais desejas ver há já alguns meses, e pela primeira vez essa possibilidade não rebateu em mim muitas vezes, não senti necessidade de apagar as luzes, não senti necessidade de fechar a porta à chave, não precisei de ligar o meu iPod, não precisei de rodar para encontrar T.B.A.H., não precisei de me enfiar debaixo dos meus lençóis quentes, não precisei de me agarrar à minha almofada, não necessitei de me meter no passo final, o de chorar e de lamentar e bradar aos céus os males que cometi que me levaram a ficar sem ti.
Hoje foi diferente, recebi a sms e sorri. Pensei, e voltei a sorrir. E respondi, "Tudo o que quis foi desejar que fosses feliz.". E apesar de possivelmente não teres acreditado nem no mais pequeno cheirinho dessa frase, gostava que me ouvisses a dizê-lo, foi muito natural e uma reacção típica de algo que se solta, do filho que sai de casa dos pais, ou de um rapaz que se tornou homem.
E agora sim, chegou a altura de embalar numa caixa tudo o que me fazia deprimir, e onde tu estavas tão presente, chegou a hora de finalmente sorrir de formam pura, como se não houvessem problemas. Os cadernos com textos nossos, a moldura, os bilhetes, os origamis, a t-shirt, todos os textos avulsos que se encontram cá em casa, as estrelas e a caixa azul também vão para embalar. Vou esconder bem fundo no meu pc tudo aquilo a que já não tenho necessidade de me agarrar, as nossas fotos, e algumas das músicas/cds que me fizeste conhecer, porque existem ainda músicas que apesar de as termos conhecido juntos ou de mas teres mostrado, ao longo do tempo foram-se definindo também como minhas.
Sei que provavelmente nunca mais nos vamos encontrar, pelo menos propositadamente, que seremos para sempre uma parte de outras equações, e que o que ficou em nós e na nossa relação é dor e ressentimento, talvez pela intensidade do que sentíamos. Sê feliz. Honestamente e sinceramente, espero mesmo que o sejas, e se os nossos caminhos nunca mais se encontrarem Goodbye. and Goodluck.
E hoje sinto-me bem, como não me sentia há muito tempo, afinal...


"It's a new dawn, it's a new day".

quarta-feira, maio 04, 2011

"Para sempre"

O "para sempre" está sobrevalorizado.
E hoje já não tem certamente o mesmo valor que teria há duas ou três décadas atrás, lembro-me que quando abracei alguém pela primeira vez escondido debaixo das varandas e entre as garagens lá de baixo pensei para mim, é isto que quero "para sempre". Mas não foi, aliás, ás vezes pergunto-me se ainda existem amores daqueles de contos de fadas, sem pessoas com defeitos, ou então pessoas cujo único defeito, parece ser amar demais.
Já não há "para sempre's" como os dos nossos pais, e dos nossos avós, que ficam anos, décadas a fio juntos, conhecendo a face do cônjuge, todas as suas expressões , saber fazer essa pessoa sorrir, chorar de alegria, conversar com ela e resolverem todos os problemas juntos, como o meteorologista que conhece todo o processo que leva à subida e à descida de temperatura, que sabe todos os processos anexos à boa disposição.
Já não há "para sempre's" pelo menos para agora, esgotaram-se, não consigo dizer que te amarei para sempre. Não consigo dizer que pensarei só em ti para sempre, não consigo dizer que pensarei em ti como musa da minha música "para sempre", não consigo dizer mais nada sobre ti "para sempre", porque te tornaste algo superior a mim, não precisas de mim para viver a tua vida, não precisas de mim para ser feliz, não precisas de mim para seres tu. Há algo no arrependimento que faz com que seja triste viver, não quero ser uma daquelas pessoas que vive com pena de si mesma por não ter aproveitado para ser feliz "para sempre" com alguém.
Vou ser alguém que descobre que "para sempre" é uma expressão singular, e que pode ser usada em mais do que uma pessoa, e que como a idade vai tratando de afirmar, "para sempre" nunca passará de um promessa vã.

terça-feira, maio 03, 2011

Dois mundos separados

Ficou a pensar para a eternidade.
Um pensamento não oscilante, em vez disso, algo frio e cortante. Um pensamento que lhe varria os sonhos e os desejos, que o fazia lembrar do passado. Ele ainda hoje não sabe o que lhe chamar, pelas suas qualidades gostava de chamar-lhe a deusa, pela sua fragilidade queria chamar-lhe flor, pelo amor que sentia por ela era coração. Tudo o que ele queria era pagar os montes e as escarpas, extinguir os rios e as pontes, cortar estradas e inventar estradas novas, que o aproximassem e que fizesse com que fosse mais rápido chegar à sua beira.
Hoje não sabe se a ama, não se sabe se gosta dela. Afastaram-se como se o tempo juntos não fosse bom o suficiente, ela era artista, fazia desenhos com os sonhos, ele era pragmático, queria o presente e o futuro encaixilhados como um mapa, que tinha de ser seguido totalmente à risca para o levar ao que ele desejava, a felicidade eterna. Ele era muito mais velho que ela, viviam em diferentes gerações, ela era do email e ele das cartas com cheiro no envelope, mas compreendiam-se, respeitavam-se e viviam muito do amor que sentiam um pelo outro.
Ela hoje quer continuar sozinha, a descobrir o mundo através dos seus olhos de artista, captando todos os simples momentos que ficam intrínsecos a nós, e que nem sempre damos o devido valor.
Ele pragmático continua a viver o presente, mas agora sem pensar no futuro, porque ele sabe que o futuro esperará sempre por ele, nem que em ultima instância ele viva fechado sobre si eenclausurado na prisão mental que vivia antes dela. Ele vive mais como um artista agora, com planos traçados, mas aproveitando todas as brisas leves que lhe amaciam a face.

segunda-feira, maio 02, 2011

Mundo nas minhas mãos.

Toda a gente já os teve.
O momento máximo da nossa curta existência, mais do que um, quantos mais melhor e melhor sinal será. Falo daqueles momentos em que julgamos ter o mundo nas nossas mãos, em que a Terra não passa de um daqueles globos que abanamos e onde a neve se espalha, onde tudo parece que está ao nosso alcance, ou melhor, tudo é atingível e nada intangível. Momentos em que nos sentimos tomados por uma sensação tão forte de auto-confiança, em que o mundo não nos deita abaixo, por muitos momentos horríveis que possam aparecer pelo caminho. Daquele momentos em que todo o que somos está em perfeita harmonia, onde o nosso karma está mais do que uniformizado, está ligado de tal maneira ao centro que tudo o que fazemos parece bom. Não quero falar de momentos perfeitos e curtos, quero falar de momentos muito bons e de duração longa.
Os curtos são bons, são segundos onde podemos contar uma vida, e são aqueles para os quais vivemos basicamente a vida, seja um beijo, um abraço, um poema, uma canção, uma interpretação ou um outro qualquer momento de génio.
Os longos são bons no instante, na altura em que o vivemos, são semanas ou meses, em que nos julgamos não intocáveis, mas talvez semi-deuses com condição humana, capazes do divino e do sobre-humano apesar da figura física. São momentos de intensa auto-confiança; e felicidade extrema, daquela em que pairamos um pouquinho acima das nuvens; são momentos em que o nosso coração está aberto, encarnado e brilhante, sorridente e puro; momentos em que o nosso "génio" se expande, e toda a nossa criatividade e talento se expandem. Apesar de muito bons, estes nunca são perfeitos, apenas são perfeitos quando são no presente. Já os vivenciei, no final do secundário, onde tudo o que fazia a nível musical tinha melhor qualidade, e onde me sentia mesmo bem a fazer música, ao meu melhor nível, pessoalmente também estava muito bem, mas o importante neste caso é mesmo a música. O outro período desde há dois anos e muito, até há 6 meses atrás, nunca me sentira tão bem, a nível sentimental, sentia-me mesmo noutro mundo.
Hoje, tento por o caminho da vida sentimental em segundo plano, e tentar relançar e vivenciar a minha melhor música todos os dias, e fazer com que acima de tudo, eu me sinta satisfeito por fazer música, por atingir cada vez mais o que eu idealizo como sendo o caminho para a plenitude musical, o esteticamente belo na música em geral, no trombone em particular.

domingo, maio 01, 2011

Tu, que povoas o meu coração

Tu, que povoas o meu coração,

Não sei como haveria de começar a escrever aqui. Já não me posso chamar de "meu amor", não seria justo para ti, nem seria justo comigo mesmo, não que não te ame, porque amo, mas porque perdi todo o direito que tinha de dizer que de alguma forma eras minha. Não te queria chamar querida, porque na realidade é demasiado banal. Não te queria chamar pelo nome, porque esse só deve ser usado por quem queres que o use. Então começo contigo, tu que povoas o meu coração, porque te sinto hoje duma forma assoberbada, assombradamente cheia de calor e carinho, porque não consigo deixar de pensar em ti, e porque te vejo em todo o reflexo do que faço.
Não sei como me sentes hoje em dia, não sei sequer se mereço ser sentido por ti. Se mereço sequer um segundo dos teus sentimentos e um segundo dos teus pensamentos. Não há um dia em que não me martirize sobre tudo o que aconteceu connosco neste último ano, e já agora durante todo o tempo que partilhamos enquanto seres apaixonados e envolvidos numa mesma relação de partilha total e abertura.
Olho para os casais que passam por mim enquanto completo o meu dia sozinho, passam por mim vindos de todos os lados, desde o Eléctrico 18 da Ajuda, no Cais de Belém, junto à Ponte 25 de Abril, tomando café juntos enquanto suavemente passam a mão pela cara um do outro, apreciando o amor em doses grandes de emoção e sentimento de estarem completos e não sentindo nenhum vazio gigantesco do tamanho das crateras do Vulcão de Sumatra. E penso no quanto de nós podia estar representado em cada um desses casais, e isso deixa-me mais triste, porque sei que eu e tu tínhamos muito mais potencial que os outros todos juntos, tínhamos amor, paixão e interesses intelectuais acima de qualquer um deles.
Sei hoje que nenhuma mulher à minha volta é capaz de me dar tanta vida como tu me davas, nenhuma delas me parece interessante, acho-as cinzentas como acho cinzento o tempo em Outubro, não são cores garridas e vivas que me fazem querer sorrir. Não tenho o mínimo interesse em querer saber quantas mulheres giram à volta do mundo, isso não mais é importante, depois de ter tido o melhor a que podia aspirar, não me posso contentar com muito menos. Daí preferir ficar a idolatrar a pessoa que és sozinho, do que encontrar alguém que nem sequer consigo gostar.
Hoje, e desde há algum tempo sei que o nosso nome não ficará imortalizado nem por Dali nem por Kandinsky em quadros vibrantes e brilhantes, de cores quentes e carinhosas que pintam a nossa imaginação de orgulho e duma sensação de bem-estar inigualável. Arrependo-me dos milhões de erros que cometi, sei que não tenho desculpa, que essas se acabaram há muito tempo, no dia em que deixei de poder errar, e no dia em que cometi o erro gravíssimo em nós.
Acabaram-se os fins-de-semana bonitos.
Acabou-se a minha ânsia de vencer as centenas de km que nos separavam mas que eram sempre vencidos ao primeiro beijo.
Acabou-se o chá das 5h, tomado no sítio do costume, envolto em olhares de admiração e ternura.
Acabou-se o regozijo com que dizia à família que tinha alguém, que na verdade não era alguém, eras Tu, Tu que mereces uma admiração grande agora que não estamos juntos, visto que reconheço os erros que cometi, e o que durante algum tempo sofreste comigo.
Não há mais sorrisos perfeitos, nem olhares lânguidos.
Não há cumes que se vencem com a simplicidade de duas mãos juntas.
Não há mais Lisboa e Porto juntos no mesma sombra de árvore.
Não há mais nada, só o meu pensamento em ti, e o teu pensamento cada vez mais longe de mim.
Acabou-se agora o conto de fadas em papel velho.
Eu fico aqui do meu lado do rio, e tu ficas do teu lado do rio.
Sinto-te em mim, como se nunca tivesses saído do meu lado.
Mas deixo-te sem mim, onde ficas feliz e mais completa.
Sempre teu. Sempre.

P.