domingo, maio 29, 2011

Grey.

Não sei de que cor acordei hoje, mas sinto-me cinzento da cor do tempo, negro como o alcatrão da estrada e sombrio da tez do quarto em que escrevo.
Enganei-me quando disse que a tua vida deixou de me afectar, é impossível isso acontecer, agora percebo, gostarei sempre de ti,, mesmo tendo alguém. Foste alguém que passou por mim, não digo a toda a velocidade, mas apenas à velocidade suficiente para ficar amarrado a ti, ao passado que nos envolvia aos dois, e a tudo o que és. incondicionalmente Podia dizer que tenho uma ligação muito forte a ti, mas estaria a mentir, uma ligação consiste em haver dois lados que se correspondem entre si, e sei que isso não acontece. Mas sinto um chamamento por ti, no sentido em que sei a diferença que fizeste na minha vida, o que me ensinaste a ser, o que me tentaste dar, o que quiseste que eu fosse, o que lutaste para eu mudar, o que sofreste enquanto eu tentava mudar, e quão partida ficaste após o acumular de situações de dor que te infligi.
Hoje a relação que temos não tem nada: não tem alegria, não tem tristeza; não tem dor, não tem prazer; não é amor, não é ódio; não é paixão, nem total desinteresse; não é calor, não é frio; não é sol, nem é neve; sei que definitivamente não sou tudo, mas efectivamente sou nada.
Sou um nada que partiu para um estação espacial no centro de nenhures, para um país no meio de algum lugar, que desapareceu com a força de algo, que sumiu como se fosse consumido pelo presente e pelo futuro. Sou um nada feito de tudo, mas que desaparece no horizonte, não faço linhas imaginárias no teu coração, ao invés soltaste-me da corda que me segurava e largaste-me nos confins daquilo que és. Sou um nada que acabou consumido pelo tempo, e pelo espaço, sendo que agora em ti me encontro a meio caminho entre o não existir e o não estar em lado algum coberto de sol. Sou um nada, e represento exactamente aquilo que o nada é, sou nada, não sou matéria, sou ar que voa em direcção à escuridão.
Hoje em ti sou aquilo que mereço ser, uma mancha.


1 comentário:

Joana disse...

"Amamos sempre o que amámos." É já não sei de que livro do Pascal Quignard. Tenho isso postado nos confins do blog.

É mesmo assim. Tal como tu és tudo e luz na vida de muitas pessoas, além de tudo o mais e de todas as outras. Somos feitos de luz e sombra, de bem e mal, perdemos coisas e pessoas pelo caminho, ganhamos coisas e pessoas pelo caminho e somos riquíssimos e interessantíssimos assim. :D

Jinhos.