domingo, fevereiro 02, 2014

#Confusões

Porquê escolher sempre o mais certo? Porque é que na vida não podemos escolher o mais difícil, e por uma vez sentir prazer em algo que nos desafia? Porquê ficar pelo mais fácil, e acto contínuo, estar confortável, só porque é do passado? Porquê não arriscar a perder tudo? Porquê ficar sujeito a algo que não nos é compatível totalmente, só porque é confortável? 
As pessoas imprevisíveis são aquelas que geralmente no fim tem os maiores sucessos, contudo nunca ganhariam nada na vida se fizessem sempre aquilo que é suposto toda a gente fazer, sujeitarem-se à rotina dos outros milhões, e assentar alcatrão no caminho da mediocridade.  Porque não aplicar isso à vida social e sentimental das pessoas, nas suas relações? 
As pessoas que não são felizes, ou que pelo menos tem mais tendência para se sentirem infelizes e inconformadas com as suas relações e com a sua vida, porque não experimentam algo diferente para variar? Uma coisa radical, que parece estranha hoje em dia, que é ficar sozinha? Sim, sozinha, sem namorado, sem amiga especial, sem nada, só essa pessoa, os seus amigos e a sua família. Mas não, à necessidade ideológica de ter alguém, a outra pessoa pode até nem servir para limpar os pratos lá da casa, mas tem de haver alguém senão passamos a ser solteiros. 
O novo estigma da sociedade actual parece ser o ser solteiro, o peso da palavra solteiro, e da capacidade das pessoas fazerem disso um estigma social. "ai, se não tens namorada não podes vir, é um encontro de casais", "E fulano, vai ficar na mesa de quem? É solteiro". 
O meu ponto é: por vezes é melhor estar sozinho numa relação unilateral, do que estar numa relação que não nos dá nada, e que não vai a lado nenhum, sem planos futuros, ou pelo menos sem uma direcção futura. Assim como é melhor estar sozinho do que voltar a estar com alguém só porque essa pessoa nos tolera, sabe o que a casa gasta , e que tem paciência para nós. E nós, apesar de não estarmos loucamente apaixonados por essa pessoa, nem sequer estarmos a amar essa pessoa, apenas gostamos porque existe um passado. O passado é passado por alguma razão, quer dizer que houve alguma razão para algumas coisas não funcionarem. 
Qual é a lógica de estar numa relação, se não amamos a outra pessoa duma forma superior ao que amamos tudo o resto? Qual é a lógica de nos envolvermos com alguém se não temos o desejo absoluto de estar com ela? Qual é a lógica de estar numa relação só porque é confortável? Qual é a lógica de cair sempre no mesmo sítio, com a mesma pessoa, quando claramente se viu por exemplos passados que não vamos tirar mais nem melhor daquela pessoa? Não podemos ter medo de amar, podemos amar a pessoa errada, estarmos apaixonados pela pessoa errada, mas deixar fugir o momento em que essa pessoa sente o mesmo por nós, porque simplesmente temos medo de arriscar, seja porque razão for, quer seja pelo passado ter sido injusto conosco, quer por estarmos noutra relação, quer por não saber o que sentimos. 

quarta-feira, janeiro 22, 2014

#Febre

"Não sei o que sinto na realidade. Só sei identifica-lo como uma febre. É assim desde o primeiro dia que te conheço. Não sei explicar de onde vem isto, de onde vem este sentimento exagerado, de onde vem esta vontade sem limite, de onde vem estas dores de cabeça, e deste sentimento de que na realidade não passa de histerismo e paixão juvenil que tenho por ti. 
Estivemos bastante tempo separados, o suficiente para saber que há coisas que não te disse, descobrir que nem tudo o que foi dito foi sentido, foi apenas frustração, mágoa de não poder amar mais, mágoa de ter ficado afastado de tudo o que era nosso, mágoa de não ter sido o que esperavam de mim, mágoa por ter falhado. Mágoa por não ter sido o homem que esperavam que eu fosse, mágoa porque talvez não soube dar o que precisavas. Mas hoje, à luz da distância dos acontecimentos passados, percebo que o amor toldou-me a memória, mas que o tempo não apagou o que sinto por ti.
À luz dos factos cheguei há pouco a Lisboa, e nada me apaga o sentimento de há uns anos atrás... O sentimento de desolação, o de teres saído da minha vida de uma forma totalmente abrupta, talvez bastante prematura, a minha tentativa ridicula de me afogar em mil e uma actividades, mas a única coisa que conseguia fazer era ver as minhas lágrimas espelhadas no Tejo, longas e ininterruptas, como o som desfocado de um velho saxofone, de um Coltrane melancólico e possuído pelo álcool. Os gritos guturais abandonados no meu velho quarto, sem luz, sem ninguém a assistir, apenas apoderado pela humildade das minhas vestes, e pela humildade dos meus sentimentos, os gritos abafados pela leveza das almofadas, e horas incontáveis de insónias sentado na cadeira, a olhar para o céu.
Não quero sofrer, nunca mais, quero ser a versão melhor de mim mesmo. Contigo ou sem ti, quero ser eu, ser tratado como mereço ser tratado, e ser amado como mereço ser amado."