quarta-feira, maio 01, 2013

#Solidão


Ele andava a tentar levar a fundo uma reflexão sobre aquilo ou em quem é que ele se tornou no presente, tentou descobrir o que se passava com ele, porque é que o coração dele não fazia tic-tac-tic-tac, como o de outro ser humano qualquer; ele só queria honestamente saber como se sentia, não tinha noção do que se passava dentro dele, não sabia mais quem era e naquilo que se tinha tornado, mais do eu nunca encontrava-se numa fase de auto-descoberta, numa fase de tentar ser genuíno e agir de acordo com aquilo que sentia, tentava re-descobrir aquilo que o motivava no que o rodeava, o que fazia andar aquele quilómetro a maus. 
Mais do que nunca sentia-se estranhamente abandonado, como se tivesse sido largado numa ilha deserta, sem ninguém pronto para o ouvir, os seus pensamentos eram tantos e tantas coisas passavam pela sua cabeça que nunca mais teria direito a pensar outra vez no mesmo assunto, sentia que fora deixado num local onde a morte nunca havia passado e onde existia apenas solidão, solidão crua que  assistia ao definhar do seu ser e de sua vida. Sentia-se a tornar num pedaço oco de vida, um objecto sem fim útil, apenas um bocado de existência que nao preenchia nada, apenas um buraco que se preenchia a si mesmo, um buraco de coisa nenhuma. 
A sua vida havia sido feliz, tinha vivido tudo o que amor tinha para oferecer, haveria sentido tudo, desde a felicidade extrema a dor excruciante, tinha passado por uma vida desafogada, nunca lhe havia faltado nada nem nunca sentira que a sua vida não estava preenchida, até ao momento em que o seu mundo desabou. A partir dai nunca mais foi o mesmo, todos os pedaços de si se estavam a extinguir, deixou de parecer acompanhado no que sentia, sentiu-se abandonado e todos sabemos quão mau é o abandono, so poderia ser pior se esse abandono viesse acompanhado pela pena de alguem pela figura em que ele se ameaçava tornar. A amargura da desilusão e da solidão, tem um gosto ferroso, quase como sangue, só que mais doloroso.
Desejava dar-se a conhecer, queria intensamente sair da caixa em que se encontrava, descobrir sair um mundo mundo, sentia-se preparado para ser abençoado pela companhia de alguém, e deixar de ser um peso morto, sentia que os seus azares e a sua má fortuna ja haviam passado. 
Não quer voltar a ser um peso morto, uma sombra, um fantasma, porque sabe que ninguém vê os fantasmas, e que ninguém dá valor à sua própria sombra. Quer voltar a existir e sentir que é válido, e que sobretudo não é feito de vazio.

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