sexta-feira, setembro 07, 2007

Al(l)garve.

Aquelas férias, mesmo férias simplesmente acabaram.
Vim de um dos nossos pedaços de paraíso, a que chamam ALLGARVE (sim, o segundo "l" não é nenhum erro ortográfico).
Reparei que cada vez mais, o nosso Algarve está a tornar-se cada vez menos nosso. Digo isto, porque agora é toda uma miscelânia de culturas que se vêem durante um dia inteiro, digo mais: os portugueses arriscam-se com o passar do tempo a serem vistos como uns estrangeiros.
Querem uma história no Algarve, ou se quiserem um pequeno filme duma rotina sem falarmos com nenhum português no Algarve?
Ora vejam:
"Acordo de manhã, e ligo a televisão, e reparo que na Cabo do hotel está a dar a Mezzo (canal francês), o que não é muito estranho visto que o dono do Hotel (ou Aparthotel), ou pelo menos o senhor que nos alugou aquilo é um francês emigrado para Portugal há uns 15anos.
Vou ao primeiro sítio que encontro para tomar o pequeno almoço fora de casa e novidade das novidades sou atendido por uma senhora luso-africana que pela tez da sua pele e pelo seu nome, me parece ser de algum país do género Cabo Verde ou Moçambique.
Na praia, podia dar uma dezena de nacionalidades diferentes das pessoas que se encontram numa praia, desde britânicos (todo o tipo), a franceses, a italianos, a alemães, etc..... Mas o que posso referir e o que me dá mais vontade de referirsão os nossos irmãos brazucas, que ouvem-se em muitos lados da praia com o seu mui habitual "Olhá Bola de Berlim, chora chora, que a mãe adora" (ou algo do género).
Após o almoço decido que vou à piscina do aparthotel, onde curioso, aprendo a falar espanhol com uma mão cheia de "nuestras hermanas".
À tarde vou á praia e repete-se a história da bolinha de berlim.
À noite principalmente em Albufeira pode encontrar-se de tudo, desde os pub's Irlandeses, ao café italiano ao fundo da rua, ao Norte-americano a dar espectáculo com as marionetas, aos peruanos a tocarem as suas flautas indías, as nórdicas a rirem-se do que vêem.
No meio de tudo os únicos portugueses que vejo ali é a rapariga vestida de palhaço e o mimo a fazerem rir os estrangeiros. É só para isto que servimos?
Não pois não?

3 comentários:

Marta disse...

Agora fiquei com vontade de comer uma bola de berlim... "É fruta ou chocolate!", lol

Joana disse...

Infelizmente, para nos fazerem rir, os nossos conterrâneos nem precisam de ter o trabalhinho de encarnar qualquer personagem... infelizmente.
Acho que te entendo.É que o Algarve, não é Nova Iorque ou Londres ou Berlim, cidades cosmopolitas por excelência. O Algarve é o Algarve, para mim que não sou continental, i.e., que tenho como destino de férias a ilha de que sou natural, o Algarve é uma miniatura de Marrocos que a invasão massiva, anos a fio, de britânicos estragaram e de que os nuestros hermanos se estão a aproveitar agora. Ainda há quinze apanhei um taxi em faro, taxi português, motorista português, bancos forrados a anúncios de apartamentos para alugar no Algarve espahol. "Venga a Espana, Algarve espera por si!" (É a isto que me refiro quando digo que o auto-riso dispensa mimos. INFELIZMENTE!)

Jinhos.

P.S. Apesar do que possa parecer, não tenho nada contra, mas ainda assim: Cuidado com as nuestras hermanas, que elas são maradas! ;)

Anónimo disse...

Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar.

Às vezes, é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que mais se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma.

Às vezes, mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida.

Às vezes, é preciso abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar fora a chave.

Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho, mesmo que não haja caminho, porque o caminho se faz a andar. O sol, o vento o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira.

Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então, esquecer.


As Crónicas da Margarida, Margarida Rebelo Pinto
(texto com supressões)