quarta-feira, janeiro 22, 2014

#Febre

"Não sei o que sinto na realidade. Só sei identifica-lo como uma febre. É assim desde o primeiro dia que te conheço. Não sei explicar de onde vem isto, de onde vem este sentimento exagerado, de onde vem esta vontade sem limite, de onde vem estas dores de cabeça, e deste sentimento de que na realidade não passa de histerismo e paixão juvenil que tenho por ti. 
Estivemos bastante tempo separados, o suficiente para saber que há coisas que não te disse, descobrir que nem tudo o que foi dito foi sentido, foi apenas frustração, mágoa de não poder amar mais, mágoa de ter ficado afastado de tudo o que era nosso, mágoa de não ter sido o que esperavam de mim, mágoa por ter falhado. Mágoa por não ter sido o homem que esperavam que eu fosse, mágoa porque talvez não soube dar o que precisavas. Mas hoje, à luz da distância dos acontecimentos passados, percebo que o amor toldou-me a memória, mas que o tempo não apagou o que sinto por ti.
À luz dos factos cheguei há pouco a Lisboa, e nada me apaga o sentimento de há uns anos atrás... O sentimento de desolação, o de teres saído da minha vida de uma forma totalmente abrupta, talvez bastante prematura, a minha tentativa ridicula de me afogar em mil e uma actividades, mas a única coisa que conseguia fazer era ver as minhas lágrimas espelhadas no Tejo, longas e ininterruptas, como o som desfocado de um velho saxofone, de um Coltrane melancólico e possuído pelo álcool. Os gritos guturais abandonados no meu velho quarto, sem luz, sem ninguém a assistir, apenas apoderado pela humildade das minhas vestes, e pela humildade dos meus sentimentos, os gritos abafados pela leveza das almofadas, e horas incontáveis de insónias sentado na cadeira, a olhar para o céu.
Não quero sofrer, nunca mais, quero ser a versão melhor de mim mesmo. Contigo ou sem ti, quero ser eu, ser tratado como mereço ser tratado, e ser amado como mereço ser amado."