quinta-feira, novembro 29, 2012

Sou um ser defeituoso, só me ponho a dar valor às pessoas que realmente interessam quando já fiz algo que as magoei, e isto não acontecem apenas uma vez na minha vida, aconteceu mais do que isso, o que me leva a pensar que enquanto ser humano tenho muito a evoluir e muito a crescer, e espero conseguir-lo fazer todos os dias para o resto da minha vida, ser merecedor do respeito e da confiança que algumas pessoas me dão. Gostava de viver mais seguro, mais seguro do que realmente sou, não ter a sensação que caminho em gelo fino em relação à identificação que tenho comigo mesmo, em relação à minha personalidade e ao tamanho da minha bondade.
E vejo-te a ti A., como talvez o maior exemplo de uma pessoa que magoei sem ter a minima noção na altura. Hoje vejo que o que fiz contigo foi um pouco mais que indecente, fui um ser humano indecente, talvez ainda o seja hoje, estou a muitos anos luz de me tornar naquilo que quero ser. Foste talvez das pessoas que mais gostou de mim até hoje, e hoje sei que tínhamos além da química óbvia que eu sabia que tínhamos, havia muito mais do que isso, mais do que algo físico havia uma conexão profunda. Foste a primeira pessoa a quem me consegui abrir do meu passado, a quem confessei as minhas fraquezas, os meus grandes erros e os meus grandes defeitos, e apesar disso nunca desististe de mim no tempo em que falamos, davas-me coragem para ir mais longe, e dizias que tinhas orgulho em mim, e do que eu era capaz de fazer, mesmo que eu não fosse a pessoa mais talentosa do mundo, e dizias que era o homem mais bonito do mundo. E eu olho para mim hoje e penso "Só podia ser amor, o que ela viu em mim? Porque desperdicei uma pessoa tão fantástica?". 
Sei que sou mais só um parvalhão, sei que parece muito um cliché pedir desculpa assim. Mas todos os laços que tinha contigo, senão foram cortados, são apenas como duas ravinas separadas por um elástico onde a comunicação se faz por um copo. Sei que nada entre nós vai voltar a acontecer, assim como admito que sou um idiota por te ter magoado como magoei. 
Espero que sejas feliz, honestamente.
E que se der, que fales comigo. 
Desculpa A..

quarta-feira, novembro 28, 2012

JLP #1


Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.



JLP, in "A Casa, a Escuridão"

terça-feira, novembro 20, 2012

Miss you B.

"Eu e tu não vamos há muito tempo, somos quase uns estranhos um para o outro, mas há simplesmente coisas na vida que são inegáveis. Há coisas que o nosso coração simplesmente não consegue explicar, onde a razão não encontra o coração, onde a física e a metafísica não se encontram, e ficam separadas pela linguagem verbal.
Não nos conhecemos há muito tempo, já nos tínhamos visto em Verões passados, e em vistas ocasionais em que não prestamos muita atenção um ao outro. Nunca tínhamos falado um com o outro, eu com o sotaque redondo do Porto, tu com o Português do Pacífico. Não estivemos muito tempo juntos, foram horas só, e nem tantas quantas as necessárias para quantificar um sentimento. Nenhumas partes do nosso corpo se tocaram, sem ser as nossas mãos, quando te agarraste a mim para saltar dum muro e te ajudei a descer as escadas naquela tortuosa descida, senti-te durante uns segundos mas fiz questão de te omitir isso porque não queria que soubesses o quão rídiculo sou, por me ter sentido tão feliz nesse momento.
Nada do que disse antes me impede de olhar para o futuro, ou melhor, de sonhar com um futuro, e de pensar no que poderia ter resultado, se tu não estivesses no meio do Pacífico, e eu aqui, numa ponta de Atlântico, onde apesar de separados por um dia, e milhões de metros cúbicos de água, o meu coração tem a capacidade de sobrevivência para me fazer pensar em ti, e no que podemos ou poderíamos ser.
Foram "só" alguns dias de um Verão que senão fosse por ti teria sido absolutamente banal, mas que devido à tua graça e à beleza do teu ser se tornou em algo completamente diferente. Partilhar os teus últimos dias em Portugal neste ano foi um privilégio que nunca irei esquecer, foram mais que simples bons momentos, foi a altura em que saí do marasmo após meses de auto-tortura e de dores de coração. Foste mais que uma companhia, foste um passe para uma alegria, para ver que posso ser feliz, e que consigo fazer alguém sentir-se feliz.
Fizeste do meu Verão um Verão a cores, em vez de um cinzento de Inverno.
Miss you B."

quinta-feira, novembro 01, 2012

Sombra

"Não tenho ideia do último sítio onde te vi, não me lembro simplesmente da última vez em que me encontrei nos teus olhos redondos com cor e forma de avelãs, não sei qual foi o momento em que perdi o teu sorriso definitivamente, nem sei bem qual foi o último momento em que a tua mão segurou a minha mão, sim, porque tu apesar de tudo, é que nos levavas, me levavas a mim com a candura das tuas palavras e com a doçura dos teus gestos a perseguir os meus sonhos de vida, tu é que me levaste e ensinaste a tentar ser feliz, que me fizeste perceber que a felicidade tem de ser trabalhada, não nos é dada, e que esse caminho para a felicidade superior só fica bonito feito a dois.
Hoje vejo a tua sombra, sempre atrás de mim, sob a sua forma cinzenta, com uma cintura delgada e um corpo escultural de matar, e atinjo que a tua sombra provavelmente nunca me vai largar. Vai estar sempre na minha retaguarda, ansiosa por me fazer sentir os passos maus e as ideias erradas, vai-me fazer quem gosta realmente de mim, e aquelas para quem na verdade sou indiferente, vai fazer-me ver a  verdade nos olhos dos outros, ver a pureza num sorriso enigmático, ver a beleza numa cascata de palavras e descobrir o que é real. Ensinaste-me muito, mas a tua sombra encina-me mais.
Hoje perdi grande parte da auto-confiança que a tua mão me dava, que me deixava a tentar atingir os limites sem nunca o conseguir, sem saber que sem ti o meu limite é muito mais inferior. Não sei vislumbrar quem gosta de mim realmente, se há alguém capaz de se deixar apaixonar por mim, pelo meu jeito desengonçado, pelas minhas mão enormes e pelo meu corpo marcado e rude. As pessoas que queiram chegar, tem de me puxar do buraco sem fundo para onde foi a minha esperança de ser amado, onde me enfiei após ser mais do que uma vez magoado após mais que uma vez, e de onde quero sair, mas o sítio onde estou, não me permite sair sozinho, preciso de um braço forte, e de uma mão delicada, que me puxe e que me ame todos os dias."